O CAPOTE e CAPELO
Sem dúvida alguma, um ícone da ilha do Faial, considerado um "luxo" na sua época, fazia apenas parte das indumentarias das famílias mais abastadas. Festas, missas, funerais no campo, ou então de uso mais regular na vila/cidade. Vou aqui deixar de seguida duas citações, importantes para compreender o significado de tão "estranha" peça de vestuário.
"O que dá um grande carácter a esta terra é o capote. A gente segue pelas ruas desertas e, de quando em quando, irrompe duma porta um fantasma negro e disforme, de grande capuz pela cabeça (...) Começo a achar interesse a este fantástico negrume e resolvo que devia ser o único traje permitido às mulheres açorianas. À saída da missa gosto de ver a fila de penitentes que se escoa pelas ruas... (...) Envolve todo o corpo, e, puxando o capuz para a frente, ninguém a conhece. O que uma mulher que use o capote precisa é de andar muito bem calçada, porque tapada, defendida e inexpugnável, só pelos pés se distingue; pelo sapato e pela meia é que se sabe se é bonita a mulher que vai no capote. O capote herda-se, deixa-se em testamento e passa de mães para filhas. O capote numa casa serve às vezes para toda a família. Mulher que precisa de ir à rua de repente, pega nele e sai como está. - Este já foi da minha avó - diz-me uma rapariga. - Era dum pano inglês escuro, dum pano magnífico que dura vidas. "
Raul Brandão (1926). "A Ilha Azul" in As Ilhas Desconhecidas
"Com origens remotas, na Flandres ou em Portugal, segundo vários autores, existiu nas várias ilhas, mas assumiu no Faial a sua forma mais "extravagante", com o grande capuz. É sem dúvida o mais característico traje da ilha. Foi usado até meados do século XX."
Faial - Guia do Património Cultural (2003) - Atlantic View