segunda-feira, 12 de maio de 2008

O CULTO AO DIVINO ESPIRITO SANTO

IMPÉRIO DA COROA NOVA




Bem, segundo "reza" a história, este império fundado em 1880, surgiu de uma desavença entre "irmãos" de outro império (coroa velha), dando lugar a uma separação; uns ficaram com o edifício na altura existente e os outros com a coroa, indo fundar o então Império da Coroa Nova. No entanto, será no mínimo estranho o império dito da Coroa Nova, ter a coroa mais antiga da freguesia. Obviamente, tudo isto carece de fundamentos, pois esta história chega até nós através dos ditos populares, e como todos nós sabemos, quem conta 1 conto acrescenta 1 ponto, logo temos no mínimo de dar o beneficio da dúvida.


Infelizmente a nível documental, e devido a alguns "trapalhões", que passaram pelas direcções, a maioria dos livros de actas, de irmãos e outros arquivos foram postos no "lixo", privando as gerações vindouras de um precioso espólio manuscrito que lá existia, ficando assim alguns dos anos de existência desta irmandade completamente em branco. Assim não podemos tirar a limpo, esta história de "desavenças"...


Uma das principais razões da sua fundação, foi a caridade, existem muitas teorias, sobre o nascimento deste culto e muitas delas fazem sentido, mas a partilha entre irmãos, foi sem dúvida um motivo muito forte na génese destas irmandades. No caso do Império da Coroa Nova, felizmente ainda existem provas da partilha, quando a pobreza fazia parte do dia a dia de muita gente, neste império prestava-se alguns "auxílios". Em primeiro lugar o Pão de trigo, distribuído aos irmãos e pessoas mais carenciadas, utilizando para tal uma "senha" ou "bilhete", quando a fartura se instalou, este gesto foi substituído por donativos a uma instituição de caridade social, casa do gaiato, etc..., mais tarde foi posto de parte este gesto, que embora simbólico, traduzia um dos fundamentos básicos destas instituições. Outro "auxilio", era prestado nos funerais, com um "subsidio" para ajudar nas despesas, e ainda "mandar" celebrar uma missa, pelo irmão falecido. (costume ainda em vigor)



Para suportar as despesas da festa e deste auxilio monetário, os irmãos pagam anualmente as "pautas", e as ofertas (que podem ser em moeda ou em géneros: bolos, fruta, patos, galinhas, massa sovada, etc...)


«foliões»
Com o passar dos anos, a tradição foi enfraquecendo, o cortejo para a igreja foi ficando com menos participantes, mas com o inicio das "chamadas" Sopas do Espírito Santo, distribuídas aos irmãos e convidados no dia da festa, trouxe novo alento a esta tradição secular.


Estas (sopas), existiam muito raramente a nível colectivo, só em caso de "função", ou seja, cumprimento de promessa, ou então quando o Império celebrou o seu centenário.


Quanto à festa em si, tem o seu inicio na segunda-feira à noite, com a recitação do terço em frente ao altar, depois na terça-feira, inicia-se as comemorações com o cortejo para a igreja paroquial, para assistir à missa e coroações, seguido de "Sopas" para todos os Irmãos. Ao fim da tarde, faz-se o arraial, junto ao império, onde se procede às arrematações das ofertas dos irmãos, ao som dos acordes da filarmónica.








A um nível mais geral, as "Sopas do Divino Espírito Santo" estão completamente banalizadas, servindo agora para a angariar fundos para tudo e mais alguma coisa, as pessoas chegam à festa da Santíssima Trindade, completamente abarrotadas de sopas, pois durante o ano, outras colectividades ou as paróquias em si, organizam estes eventos para juntar dinheiro para as obras da igreja, para a farda da filarmónica, para isto e para aquilo...


Seguir as pisadas dos nossos antepassados, hoje, já tem um significado diferente.

Ir no cortejo para a igreja, com uma vara na mão, todos unidos simbolicamente, em sinal de irmandade, de humildade, de partilha, de sermos todos iguais perante Deus, de ter como obrigação olhar pelo próximo, ajudar o semelhante, tendo em conta os seguintes Dons: Sapiência, Entendimento, Conselho, Fortaleza, Ciência, Piedade e Temor de Deus, salvo ainda algumas excepções, temos de reconhecer que nos dias de hoje, já não é muito atractivo.

Acabo com uma citação, que também serviu para finalizar um livro lançado em 2005 aqui no Faial, sobre este tema:

"Somos os responsáveis por lembrar aos homens aquilo que eles teimam em esquecer." Eric Hobsbawn

É uma grande verdade, continuamos a teimar em copiar os costumes e tradições de outros, enquanto vamos lentamente perdendo as nossas, a julgar pelo estado em que se encontram muitos dos Impérios à volta da Ilha, não podemos deixar de pensar, em aquilo que nos reserva o futuro...!

2 comentários:

Carlos Faria disse...

ao nível das festividades em louvor do Divino sou dos optimistas. É verdade que existem situações que desvirtuam os significados originais, mas a força destas festas mantém-se em muitas localidades o norte da ilha sei que é um bom exemplo. É verdade que se pode protestar por jantares com ementas tradicionais, feitos fora de contexto, mas não me chocam. Mas irrito-me com festas do Mundo rural com todos os impérios com medo de não participarem e terem retaliações, convites políticos para impérios oficiais e cúmulo dos cúmulos, paradas da semana do mar com coroas benzidas e utilizadas para fins religiosos na actualidade.

Lc disse...

Eu não quis chegar tão longe, mas tudo o que dizes é uma triste verdade.